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A força do coletivo: revitalizando o jornalismo local em desertos de notícias



Fernanda Lara CEO da I-Max - Foto: Katia Torres
Fernanda Lara CEO da I-Max - Foto: Katia Torres

A democracia brasileira enfrenta uma de suas mais sutis, porém perigosas, ameaças: o silenciamento de milhares de comunidades. Embora o percentual de desertos de notícias – municípios sem nenhum veículo de jornalismo – tenha recuado para 34,5% (1.916 cidades), segundo a 7ª edição do Atlas da Notícia (2024), a realidade é que quase 5,5 milhões de brasileiros ainda vivem em um vácuo informativo, privados da fiscalização do poder e do acesso a informações de qualidade sobre suas próprias comunidades.


Essa lacuna abre espaço para narrativas distorcidas e para a invisibilidade de problemas locais. Em um cenário onde a notícia parece fluir apenas dos grandes centros, estados como Minas Gerais, que ainda lideram negativamente as estatísticas, tornam-se o palco central dessa luta.


Foi nesse cenário de urgência que, durante o 20º Congresso da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), um grupo de jornalistas se reuniu para debater e buscar caminhos para reverter essa situação, a convite do programa Mais pelo Jornalismo (MPJ), uma resposta estratégica da I-Max, empresa de tecnologia e inteligência de dados dedicada a desenvolver soluções e plataformas que fortalecem o ecossistema do jornalismo e da comunicação.


Cenário Nacional


A natureza desse deserto informativo é o ponto crucial. Não se trata da ausência de comunicação, mas da ausência de jornalismo profissional, capaz de fiscalizar o poder, investigar a fundo e repercutir as particularidades locais. O espaço deixado por redações é frequentemente preenchido por conteúdos que não se submetem aos rigores éticos e metodológicos da profissão, levantando as questões urgentes: quem está realmente fiscalizando o poder nesses locais? E qual a qualidade e a confiabilidade da informação que de fato chega aos cidadãos?


"Colônias Informativas"


A pesquisadora Jacqueline Deolindo, em seu estudo, destaca a problemática central da falta de cobertura local. Deolindo argumenta que, sem veículos de imprensa próprios, muitas localidades se tornam verdadeiras "colônias informativas", receptoras de notícias dos grandes centros, mas incapazes de narrar suas próprias histórias e acontecimentos. Esta situação não apenas priva os cidadãos de informações cruciais, mas também impede que essas regiões contribuam com suas perspectivas para o debate regional ou nacional. A consequência direta é uma cidadania enfraquecida e uma maior vulnerabilidade à desinformação.


I-Max e MPJ


Diante dessa complexa realidade, o programa Mais pelo Jornalismo (MPJ) emerge como uma resposta estratégica e coletiva. Esta iniciativa da I-Max materializa o compromisso da empresa com a revitalização da imprensa, aplicando sua expertise em tecnologia e dados para atuar no fortalecimento do jornalismo local e independente através de suporte tecnológico e colaboração.


O projeto MPJ consiste em entregar aos portais de notícias parceiros um pacote tecnológico completo, com o objetivo primordial de aumentar a audiência e a rentabilidade dos veículos, ao mesmo tempo em que proporciona economia com infraestrutura e programação. 


Fernanda Lara, em palestra na Abraji, declarou:


Vocês são completamente livres para trocar o conteúdo de vocês, para trocar a maneira de trabalhar de vocês, como vocês acharem melhor. Mas a gente quer de certa forma para tentar influenciar métodos e comportamentos editoriais que talvez rendam bons frutos. E essa forma de influência é justamente por meio da conversa, do diálogo, da troca.

Esse suporte, oferecido em regime de parceria, inclui um layout renovado para o site, servidor de hospedagem que aguenta picos de audiência, todos os itens de cibersegurança necessários, um CMS para gerenciamento de notícias e publicidade exclusiva, configuração de plataformas de publicidade digital (mídia programática) diretamente na conta do veículo, acesso a um analytics personalizado que se alimenta de várias fontes além do Google, e-mails corporativos (@ do veículo) e suporte 24/7 via WhatsApp. 


Essa parceria abrange desde a concepção do layout até a migração do conteúdo de servidores antigos. Ao garantir essa infraestrutura robusta e moderna, o MPJ busca não apenas fortalecer os veículos individualmente, mas também fazer a ponte para que indivíduos e entidades compartilhem informações, usando as soluções da I-Max para suprir o vácuo informativo em comunidades.


A idealizadora do MPJ, Fernanda Lara, explica que a filosofia da rede se baseia em pilares que visam transformar a realidade do jornalista que atua de forma independente. O primeiro pilar é a "cooperação para combater o isolamento". Segundo Lara, o jornalista que trabalha sozinho está frequentemente desamparado, cheio de inseguranças e sem colegas com quem trocar referências e a rede MPJ, portanto, funciona como uma comunidade que permite essa troca.


O segundo pilar é a "influência editorial através do diálogo". Lara enfatiza que o MPJ não impõe métodos, respeitando a liberdade de cada publisher. A influência para adotar comportamentos editoriais mais frutíferos ocorre por meio da conversa e da troca de experiências, inspirando os participantes com a voz de diversos especialistas.


Isso leva ao terceiro e mais profundo pilar: a "qualificação do conteúdo". Em um cenário de algoritmos e Big Techs, Lara aponta que a única variável que o jornalista de fato controla é a qualidade do seu conteúdo. A rede busca, assim, incentivar a transição de um "jornalismo declaratório" — que apenas reproduz falas oficiais — para um jornalismo que mergulhe na comunidade.


A proposta é resgatar um conteúdo que "traga mais a voz das pessoas, que traga mais a identidade das pessoas para dentro das reportagens". Ao fazer isso, o veículo quebra o paradigma de ser uma mera "colônia informativa" e permite que a comunidade finalmente narre a si mesma, gerando um senso de pertencimento e relevância que bloqueios algorítmicos não podem frear.


Angelo Batecini, publisher do Portal São Marcos Online, percebe o potencial transformador dessa filosofia:

"Eu ainda não consegui entender para onde toda essa rede vai, mas já dá para entender a força desse projeto para nós e para o jornalismo."
Fernada Lara e Ângelo Batecini
Fernada Lara e Ângelo Batecini

Minas Gerais


Apesar do avanço nacional, a situação em Minas Gerais continua sendo a mais crítica do país. O estado ainda concentra o maior número absoluto de municípios sem imprensa local. Com 491 cidades classificadas como desertos de notícias, o estado é um campo fértil para a invisibilidade e a falta de fiscalização.


É exatamente para preencher essa lacuna de narrativa e fiscalização que novas iniciativas surgem no estado. Um exemplo é a OutraMídia, um projeto de jornalismo independente que será inaugurado em Minas Gerais com o apoio da rede MPJ. A iniciativa é encabeçada por Katia Torres, estudante finalizando o curso de jornalismo na PUC Minas e frequentadora assídua do Congresso da Abraji.


Segundo Katia, os dados de Minas mostram onde o fazer jornalístico é mais urgente. Ela afirma que a OutraMídia nasce com o propósito de ser parte da solução, buscando questionar, fiscalizar e amplificar a voz de quem não é ouvido, como uma prova de que o jornalismo local, quando apoiado, pode transformar realidades.


A Força do Coletivo


A união de esforços, por meio de programas como o MPJ ou pelo surgimento de novos veículos como a Outra Mídia e Portal São Marcos Online, é fundamental. Essas iniciativas reforçam que o jornalismo local, apoiado de forma coletiva, é a ferramenta mais poderosa para reconstruir a fiscalização do poder e a confiança na informação. É a garantia de que as perguntas essenciais — quem vigia o poder? e a informação é confiável? — voltarão, cada vez mais, a ser respondidas pelo jornalismo profissional.


 
 
 

2 comentários

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Convidado:
17 de jul.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Estou feliz em fazer parte do Mais Pelo Jornalismo (MPJ) e contar com a experiência e sapiência de vários profissionais. Sempre apostei em matérias com personagens que contribuam para o enredo e assim envolvam a sociedade. Além de atuar como jornalista empresarial (desde a venda de anúncios, editoração, ,entrevistas, matérias, até a distribuição do jornal), também tive uma importante experiência como assessor de imprensa da Câmara de Mauá por algum tempo, que acredito que possa agregar no "nosso projeto".

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Membro desconhecido
25 de jul.
Respondendo a

Legal, vamos juntar forças.

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